Casa Cidades

Catadoras(os) de materiais recicláveis fazem balanço das atividades em oficina de formação política.

Para encerrar as atividades do ano com chave de ouro o Complexo Cooperativo de Reciclagem da Bahia-CCRBA, através do Projeto Cuidar das Cidades: Nossa Casa Comum apoiado pelo programa #CasaCidades do Fundo Socioambiental CASA, realizou sua terceira, e última oficina de formação do ano de 2018. Com a temática Política e os Catadores(a) de Materiais Recicláveis, as discussões foram conduzidas pela facilitadora Valdecir Nascimento historiadora, mestra em educação e coordenadora executiva do Instituto da Mulher Negra ODARA. O encontro aconteceu nesta quinta-feira(20), nas instalações do Parque São Bartolomeu, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.48392365_566912867106121_627757758627708928_n
Com uma breve apresentação sobre a história da catação na Região Metropolitana de Salvador os representantes de cooperativas e associações, além da diretoria do CCRBA, iniciaram o longo dia reflexões sobre o ano de 2018. Foi traçado um panorama sobre o reconhecimento da atividade, desde o tratamento dado ao catador ao longo da história do movimento, até a promulgação, mas não implementação da Lei de Resíduos Sólidos, há mais de uma década.
Cada um trouxe suas memórias da experiência da catação quando, ainda sem o menor conhecimento social, os trabalhadores eram mal vistos pela população: “a gente era chamado de lixeiro, depois badameiro, ninguém queria nem chegar perto. Éramos muito destratados no começo”, lembrou Edson de Jesus, representante da RECICOOP.
“Passamos de lixeiro a agente ambiental, fruto de muito trabalho de conscientização. As pessoas, hoje, entendem melhor o que fazemos, embora ainda busquemos melhor reconhecimento da população e dos poderes públicos”, sinalizou Jerônimo Bispo, vice-presidente do CCRBA.48413484_566912890439452_4622687779019554816_n

“Estrategistas da sobrevivência”
Assim a facilitadora Valdecir Nascimento definiu a base dos trabalhos da catação. “Quando começou a faltar o pão na mesa e fomos obrigados a inventar o que fazer, encontramos as oportunidades no lixo, começamos a amassar as latinhas. Tivemos que pensar em estratégias de sobrevivência com trabalho digno. Esse é o começo de tudo”, pontuou a historiadora. Ela construiu uma cronologia das atividades socioambientais, desde a ECO-92 e a Rio+20 e os desdobramentos que culminaram ações práticas de governo, como por exemplo, a Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Ainda que a implementação não tenha acontecido, de fato, na maioria das cidades, é preciso perceber que houve um avanço sobre o reconhecimento da atividade, desde a maneira como nos chamavam, à nossa função social, agregando juízo de valor à categoria”, ressaltou Nascimento.
48416052_566912780439463_3003036116841398272_nPara Michele Almeida, presidenta do Complexo Cooperativo de Reciclagem da Bahia-CCRBA é preciso pontuar os avanços sem perder de vista as demandas a serem ainda alcançadas. “Se pensarmos que hoje temos um reconhecimento público do nosso papel, que conquistamos direitos trabalhistas como a contribuição no INSS, que temos uma política pública nacional própria, ainda que não implementada, que já é possível discutir logística reversa, precisamos seguir na luta para que o que está no papel se configure prática e o que conquistamos possamos manter. Há muito o que fazer nesse ano que vem chegando”, refletiu a presidenta.
E, como não poderia deixar de ser, foi oferecido um lanche em confraternização de final de ano. “A gente tá o tempo todo na labuta. Esses momentos nos dão força e garantem o ânimo para mais dias. Nos apoiarmos é importante e nesse cenário que se desenha, será cada vez mais necessário”, finalizou Michele Almeida.