Com mais de 100 mil habitantes, a Lomba do Pinheiro é um dos maiores bairros populares da capital gaúcha Porto Alegre. E sua população, como a de todos os grandes centros urbanos, também vivencia no seu cotidiano os problemas relacionadas as altas tarifas de energia elétrica.
O popular “gato”, a inadimplência e o endividamento de famílias nas companhias elétricas são situações comuns nas grandes cidades, sendo reflexos sociais do atual modelo energético brasileiro que cobra dos cidadãos a quinta tarifa mais cara do mundo, mesmo que no Brasil se produza energia com uma das maneiras mais baratas (hidroeletricidade). Esses elementos da questão energética brasileira são pouco debatidos e compreendidos pela totalidade da sociedade e diante disso, lideranças do bairro junto com a APROVI (Associação de Proteção a Vida), vêm realizando rodas de conversa e visitas as famílias para debater sobre as altas tarifas e as questões que os moradores vivenciam no dia a dia no âmbito da energia elétrica.
Para além de escutar as famílias e discutirem o porquê da tarifa ser tão alta, também são apresentadas alternativas, como as Placas Solares do Sistema ASBC (Aquecedores Solares de Baixo Custo). Estas placas são tecnologias sociais que não produzem energia, mas aquece água, diminuindo o uso do chuveiro elétrico, que corresponde a cerca de 40% da conta de luz das famílias do sul do país, que devido a baixas temperaturas durante boa parte do ano precisam diariamente de água quente. Para além do banho, a água quente também pode ser usada para outros usos domésticos, como na pia da cozinha ou para outras necessidades que família possa ter, proporcionando dignidade, economia e diminuindo a dependência das famílias diante do setor elétrico atual, que impõe altas tarifas. O dinheiro economizado na conta de luz pode ser destinado para outras questões básicas da família, como alimentação, saúde, lazer, etc.
Graças a aprovação de um projeto no programa Casa Cidades, do Fundo Socioambiental Casa, serão instaladas seis destas placas solares em residências de famílias do bairro que irão divulgar os benefícios do uso destas tecnologias sociais para os demais moradores da Lomba do Pinheiro. O objetivo do projeto é criar uma experiência que possa estimular a formulação de uma política pública no âmbito das alternativas energéticas para toda a cidade de Porto Alegre. O projeto também conta com o apoio do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) que é um referencia nacional no debate sobre a questão energética brasileira e que desde 2016 possui uma experiência com estas tecnologias no interior do estado do Rio Grande do Sul.
Funcionamento das Placas
As placas solares do Sistema ASBC (Aquecedores Solares de Baixo Custo) possuem montagem fácil, demandam pouca manutenção e apresentam um funcionamento simples. A água em temperatura ambiente é disponibilizada para um boiler de 200 litros que é montado no telhado, na parte que mais leva sol. A água do boiler entra por gravidade em tubos de vidro revestidos por uma tinta específica para captar melhor a luz solar, e partir daí começa o processo de aquecimento de água, que pode chegar a mais de 90º.
Este sistema também é combinado com a fiação comum de energia elétrica, que é acionada apenas em dias de chuva e pouco sol, para que a família não fique sem água quente no banho, principalmente. Além disso, as placas também garantem benefícios múltiplos para as famílias, podendo diminuir o custo com energia elétrica em até 40% em um domicilio com 4 pessoas.