Por Débora Didonê, coordenadora do projeto Escola Verde com Afeto - Canteiros Coletivos
De prosa com Alan, lavador de carros, e Zé, vendedor de coco, do Lobato. Estávamos aguardando a retirada do lixo ali da rua pra transformar o espaço em jardim e ambos me diziam que dali até o fim do dia estaria tudo cheio de lixo de novo. Ficamos conversando sobre esperança, união, aí falei pro Zé que ele poderia plantar coqueiros pra colher seus cocos na calçada. Ele se divertiu. Alan deu risada também dando aquele empurrãozinho no Zé. “Imagine, Zé”, eu disse, “você de manhã subindo no coqueiro”. Dá-lhe gargalhada. Depois de 1h20 de coleta, a rua ficou pronta e iniciamos a pintura e o plantio. Daqui a pouco apareceu Zé e me disse: “Vou ali buscar um vaso de planta pra botar nessa calçada AGORA!” E lá veio ele com o vaso no carrinho de mão. Abracei Zé. Bati palmas pra ele. Ele sorriu e saiu todo feliz. Alan ficou o tempo todo conosco porque seu lava-jato ficava ao lado do lixo. Ele ganhou um letreiro do lava-jato no muro, que Thiago Nazareth gentilmente fez pra ele durante nossa ação. Alan ficou tão empolgado, que começou a expulsar as pessoas que vinham jogar lixo ali de novo. Não era bem assim, Alan, rs! Mas a gente entende. Quem passou dias e dias de sua vida cheirando chorume no sol quente chega uma hora que se reta. Sei que terminamos a ação na hora do almoço. E que a escola, os agentes de saúde, os estudantes, garis, professoras, comerciantes, todo mundo interagiu. Alan e Zé, que amanheceram ali descrentes, fizeram parte dessa transformação. Colaram com a gente, ajudaram, sorriram, se animaram. Viram que não estavam sozinhos, que há mais gente pensando igual a eles, que juntos podemos nos fortalecer, que a vida é mais fácil e mais bonita quando estamos juntos. Gratidão, Lobato, pela sua receptividade. Foto: Matheus Tanajura